A 1ª Revolução Industrial aconteceu a partir do ano de 1780 e trouxe o aprimoramento de máquinas a vapor e linhas de montagem. 90 anos depois, a 2ª Revolução deu início ao uso de energia elétrica, aço e motores movidos à combustíveis fósseis. Por volta de 1970, a 3ª Revolução Industrial mudou o mundo com o avanço de tecnologias e sistemas computadorizados. Agora, a 4ª Revolução está presente e é conhecida como
Indústria 4.0.
De acordo com o Ministério da Economia (ME), a quarta revolução industrial vai trazer um impacto mais profundo e exponencial do que as três primeiras.
Henrik von Scheel, um dos criadores do termo Indústria 4.0 e autoridade em estratégia e competitividade, afirma que a nova revolução vai modificar de vez a vida humana. “Basicamente, vai alterar a nossa forma de viver, trabalhar, consumir, negociar, investir e o modo de nos relacionar com os outros”, assegura.
A Indústria 4.0 é o conjunto de tecnologias que permitem a fusão do mundo físico, digital, virtual e biológico. Apesar das transformações tecnológicas, a base das mudanças decorrentes da
4ª Revolução Industrial não são máquinas.
“Não são robôs ou inteligência artificial, o ser humano é o centro da Indústria 4.0”, garante von Scheel.
O termo Indústria 4.0 surgiu pela primeira vez na Feira Industrial de Hannover, em 2011. Após dois anos, o grupo ministrado pelos físicos e empresários Siegfried Dais e Henning Kagermann, com o apoio do Governo Federal Alemão, publicou um trabalho na mesma feira sobre o desenvolvimento da Indústria 4.0. O conceito integra as principais inovações tecnológicas dos campos de automação, controle e tecnologia de informação, aplicadas aos processos de manufatura.
A Indústria 4.0 é um novo paradigma que combina técnicas avançadas de produção e operações com sistemas digitais inteligentes. Com isso, é possível vermos empresas digitais não só interligadas e autônomas, mas com capacidade de se comunicar, analisar e usar dados para impulsionar ações inteligentes adicionais de volta ao ambiente físico.
Estudos da consultoria McKinsey revelam que inserir métodos 4.0 podem otimizar a produtividade das indústrias e aumentar a qualidade e a precisão de 15% a 35%. Com isso, vemos produtos mais adequados às necessidades e desejos dos consumidores e não necessariamente a um preço muito acima em função da maior eficiência.
Princípios da Indústria 4.0
Existem alguns princípios que configuram o que chamamos hoje de quarta revolução industrial. Para garantir que seu negócio esteja de acordo com o preceito, ele precisa seguir essas características:
Interoperabilidade: a capacidade de máquinas, dispositivos, sensores e pessoas de conectar e comunicar através da Internet das Coisas (IoT) e
Computação em Nuvem.
Descentralização: a habilidade de sistemas ciber-físicos de tomar decisões por conta própria e executar tarefas da forma mais autônoma possível.
Assistência Técnica: habilidade de sistemas de assistência de ajudar humanos ao agregar e visualizar informações sobre a fábrica e, então, sugerir soluções. Além da capacidade de sistemas ciber-físicos de apoiar fisicamente os seres humanos em tarefas exaustivas ou inseguras.
Virtualização: a habilidade de sistemas de informação de criar cópias virtuais das fábricas inteligentes. Permitindo a rastreabilidade e monitoramento remoto de todos os processos.
Capacidade em tempo real: coletar e analisar dados e entregar conhecimento derivado dessas análises de forma instantânea, permitindo a
tomada de decisões em tempo real.
Modularidade: adaptação flexível das fábricas inteligentes para requisitos mutáveis através da reposição ou expansão de módulos individuais.
As principais tecnologias que integram a Indústria 4.0:
- Sistemas Ciber-Físicos (CPS)
- Biologia Sintética
- Internet das Coisas (IoT)
- Inteligência Artificial (IA)
- Manufatura Aditiva ou Impressão 3D
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Desenvolvimento da Indústria 4.0
A Indústria 4.0 é ampliada por meio de “ondas”, de acordo com Henrik von Scheel. A quarta revolução industrial tem etapas e cada uma desbloqueia paradigmas para permitir que a próxima “onda” aconteça. Existem, assim, alguns requisitos tecnológicos que abrem espaço para que novas tecnologias surjam. Atualmente, o mundo está no início da 2ª Onda.
- 1ª Onda (2009-2016): Digitalização (Internet das Coisas), Análises Avançadas, Computação em Nuvem, Realidade Aumentada e Impressão 3D.
- 2ª Onda (2016-2025): Inteligência Artificial, Sistemas Autônomos, Blockchain, Comunicação 6G e Futuro da Energia.
- 3ª Onda (2025…): Segurança Cibernética, Neurotecnologia, Nanotecnologia, Computação Quântica e Bioinformática.
Perspectivas para o desenvolvimento da Indústria 4.0 no Brasil
Gerando ganhos de eficiência, redução nos custos de manutenção de máquinas e consumo de energia, a Indústria 4.0 tem o potencial de modificar de forma significativa o país. De acordo com o levantamento da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), a estimativa anual de redução de custos industriais no Brasil, a partir da migração da indústria para o conceito 4.0, será de, no mínimo, R$ 73 bilhões/ano.
Conforme Caio Megale, secretário de Desenvolvimento da Indústria, Comércio, Serviços e Inovação do ME, o governo federal vai tentar criar um ambiente favorável para que o setor privado avance rumo à modernidade. “É preciso reduzir a insegurança jurídica, aprimorar o marco regulatório da inovação e apoiar empresas com programas de qualificação de gestão e de capital humano”, afirmou Megale.
O Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) publicou uma carta alegando que a Indústria 4.0 é a grande oportunidade para a indústria brasileira ser mais produtiva, por meio de tecnologias digitais que vão ajudar as empresas a aprenderem e serem mais ágeis.
Entretanto, ainda existem grandes desafios. Segundo o ranking Global Innovation Index (GII), lista que mede o nível de inovação dos países, o Brasil ocupa o 66º lugar entre 129 posições. A Indústria 4.0 requer medidas necessárias, como, por exemplo, viabilizar infraestrutura e levar banda larga para mais de duas mil cidades do Brasil.
Sobre esses desafios e setores que o Brasil precisa desenvolver para fomentar um ambiente agradável para o progresso da Indústria 4.0 no país, o Digitalks conversou com especialistas e representantes de marcas que já atuam com a 4ª Revolução Industrial. Veja a seguir comentários sobre as dificuldades, expectativas e insights de como enfrentar barreiras para implementar métodos 4.0.
Matheus Arantes, gerente da Engenharia Elétrica e Eletrônica da Volkswagen Brasil
“As perspectivas são muito boas. A Volkswagen tem como objetivo trazer soluções que aprimorem ainda mais a experiência do cliente, seja no momento de compra do seu carro, como no seu relacionamento com o produto no dia a dia. Temos como um dos pilares o uso da tecnologia, que é um ponto importante da 4ª Revolução Industrial no Brasil, para simplificar a vida dos consumidores e pensar em novos modelos de negócios focados, entre outros temas, no
futuro da mobilidade.
Estamos trabalhando há pouco mais de um ano na construção e na implementação da Nova Volkswagen: empresa ainda mais ágil, eficiente, inovadora e ainda mais próxima de seus públicos. Posso citar um exemplo de como aplicamos essa metodologia: […], desde que iniciamos os processos rumo à indústria 4.0, aumentamos de 50% para 70% o nível de automação em nossas fábricas e reduzimos em até nove meses o tempo de desenvolvimento de novos projetos.”
André Rabelo Sousa, Gerente de Digital do Burger King Brasil
“Uma grande parte das empresas (brasileiras) já entendem a necessidade de transformar e adaptar seus negócios para um mundo mais digital. Porém, os dois principais desafios da indústria 4.0 no Brasil são: apesar da tendência de queda, o alto investimento das tecnologias disponíveis e talentos digitais para viabilizar novos modelos.
(No Burger King) um dos pontos mais importantes é ter o cliente como foco principal no negócio. E a partir disso, desenhamos e implementamos uma estratégia
omnichannel, adotando cada vez mais novas tecnologias em toda a operação do Burger King. Criamos também estruturas mais horizontais com times multidisciplinares e privilegiando uma estratégia e gestão cada vez mais baseadas em dados.”
Marcelo Trevisani , CMO LATAM da CI&T
“Há grandes oportunidades para pequenas, médias e grandes empresas avançarem rumo à Indústria 4.0. A adoção de tecnologias disruptivas por empresas brasileiras já é realidade, como revelou a pesquisa Business Impact Insights, em abril deste ano, realizada pela CI&T em parceria com o Opinion Box – o estudo reuniu opiniões de cerca de 200 executivos, sendo 100% em cargos de liderança. Dentre as tecnologias que vêm sendo incorporadas nas estratégias dos empreendedores, estão a
Inteligência Artificial (60%), Analytics e Big Data (46%),
Internet das Coisas (41%), Blockchain (36%), Realidade Aumentada e Realidade Virtual (34%), e
Chatbot (27%). Assim, esse cenário demonstra o quanto as empresas estão ávidas para criar ambientes de produção cada vez mais hiperconectados e evoluir seus processos no nosso país.
(…) Trabalhamos lado a lado com grandes empresas em sua jornada de
Transformação Lean Digital para migrar seus negócios para a era da indústria 4.0. Promovemos mudanças de cultura e
mindsets com o intuito de resolver questões complexas, evoluir e tornar mais ágeis processos produtivos e construir soluções inovadoras, experiências diferenciadas e personalizadas que entregam mais valor aos consumidores. Com isso, as empresas passam a estar mais próximas de seus clientes, aumentando sua satisfação e fidelização.”
Daniel Amaral, Professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado – FECAP
“Acredito que existem dois principais desafios da Indústria 4.0: investimento e mão de obra. Primeiramente, todos sabem que, no longo prazo, a Indústria 4.0 irá ajudar na eficiência e otimização das fábricas, mas para adaptá-las hoje são necessários altos investimentos, ou seja, um desafio é realmente a empresa ter a consciência e também a capacidade de investir agora para poder usufruir das vantagens da Indústria 4.0 no futuro.
Em segundo lugar, temos também o desafio da mão de obra, pois infelizmente em alguns setores há uma falta de mão de obra especializada e, com a indústria 4.0, novos conhecimentos e capacitações serão exigidos, o que poderá ser um problema para muitas empresas. A melhoria na educação e capacitação são primordiais para não enfrentarmos problemas dentro da indústria 4.0 no país.”
Leandro José Morilhas, Coordenador Geral de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão na FIA de Administração e Negócios (FFIA) na Universidade de São Paulo – USP
“O Brasil precisa investir em educação, inovação, pesquisa e desenvolvimento de produtos inteligentes e conectados. É necessário promover a
cultura do empreendedorismo, dedicar-se ao investimento em sistemas de pesquisa e aumentar a produtividade. Mas em primeiro lugar, é fundamental investir em educação e capacitar pessoas para utilizarem os robôs e máquinas. Investir em habilidades mais refinadas.”
Luis Pilli, Head da Pós Graduação em Marketing na Business School São Paulo – BSP
“De forma geral, a indústria 4.0 pode ser mais uma janela de desenvolvimento para um país que já desperdiçou algumas oportunidades. Aproveitar a Revolução Industrial requer ousadia de empresários, articulação de uma visão de futuro para o país que passa pela formulação de políticas públicas que incentivem a
digitalização e eliminem restrições estruturais à Indústria 4.0. As transformações que ocorrerão no funcionamento das sociedade e nos estilos de vida das pessoas serão profundos, os desafios são grandes e precisam ser enfrentados com coragem, criatividade e muito conhecimento.”
Henrik von Scheel, Criador da Indústria 4.0
“Estamos em um mercado global onde as habilidades, o preço e a concorrência são regras. 35% das competências exigidas para empregos nas indústrias vão mudar até 2020. E pelo menos um em cada quatro trabalhadores nos países da OCDE já está relatando uma incompatibilidade de habilidades exigidas, na verdade, por seus empregos atuais. A questão é: o que será em alta demanda em dois a cinco anos? Estamos nos movendo para uma era em que a mentalidade é mais importante do que habilidades.”
Gabriel Dias
é jornalista formado no Centro Universitário de Brasília – UniCEUB. Analista de Conteúdo no grupo Digitalks, Gabriel também tem experiência nas áreas de jornalismo político. Trabalhou em agências de comunicação e na Câmara dos Deputados. Gosta de produzir conteúdos digitais e foca no Marketing Digital